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sábado, 16 de janeiro de 2010

O Lobo da Estepe - Herman Hesse


Herman Hesse (1877-1962) Nasceu na Alemanha e naturalizou-se suíço em 1923. Contista, poeta, ensaísta , e editor de importantes obras da literatura alemã, o escritor foi um adversário declarado do nazismo, e se posicionou firmemente contra a ascensão dessa ditadura por meio de artigos publicados naquela época. Em 1911, viajou para a Índia, para conhecer o Extremo Oriente, e a partir de então escreveu alguns livros de grande sucesso, como Sidarta e O Lobo da Estepe. Em 1946, Hesse ganhou o Prêmio Nobel da Literatura pelo livro O jogo das contas de vidro.

Esta é uma breve biografia do autor que vem logo no inicio do livro, fiquei curiosa em ler este livro quando assisti a entrevida de Clarice Lispector, escritora que gosto muito, no qual ela fala que ficou chocada quando leu aos 13 anos esse livro, ai pensei: "O que deve ter nesse livro de tão bom assim?". Então resolvi comprar, fui a uma livraria perto de minha casa, e perguntei sobre o livro, só tinha um exemplar, o meu a minha espera (rsrsrs), comecei a ler, minha leitura logo de principio se deu de forma muito ansiosa, aos poucos fui acalmando a leitura, o livro é simplesmente magnifico, ele retrata Harry Haller, um homem de 50 anos e seus conflitos e reflexões, o livro começa descrevendo-o através da visão do sobrinho da dona da hospedaria em que ele ficou hospedado cerca de 9 meses, depois mostra através de sua própria descrição, e nesse prolongar é mostrado suas infelicidades e a questão do suicídio como saída num momento onde chega-se ao limite do ser humano, sua descrição se desdobra em três personagens, Hermínia, Maria e Pablo, que são desdobramentos de Harry, no qual Hermínia afirma ser "o espelho de Harry", Maria por sua vez é apenas o corpo que se entrega, a parte disponível de Hermínia, e Pablo é a sua versão masculina, aquele que gostaria de ser. Dessa forma vai tecendo a trama, mais detalhes não posso dar, só lendo mesmo pra saber.
Teve partes que me marcaram por vários motivos, por me remeter a pensamentos de Clarice, à questionamentos internos, enfim, um dos foi a seguinte frase: "...aquilo por que suspirava tão desesperadamente, não era saber e compreender, mas vida, decisão, movimento e impulso."
Essa frase me marcou por que me remeteu rapidamente à celebre frase de Clarice: "...não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Outra coisa marcante foi o poema escrito por ele:

OS IMORTAIS

Dos vales terrenos
chega até nós o ensaio da vida:

impulso desordenado, ébria exuberância,

sangrento aroma de repastos fúnebres.


São espasmos de gozo, ambições sem termo,

mãos de assassinos, de usuários, de santos,
o exame humano fustigado pela angustia e pelo prazer.

Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,

respira beatitude e ânsia insopitada,

devora-se a si mesmo para depois se vomitar.

Manobra a guerra e faz surgir as artes puras,

adorna de ilusões a casa do pecado,
arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo
nas alegrias de seu mundo infantil;

ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade

para de novo retombar na lama.


Já nós vivemos

no gelo estéreo transluminado de estrelas;

não conhecemos os dias nem as horas,
não temos sexos nem idades.

Vossos pecados e angústias,

vossos crimes e lascivos gozos,

são para nós um espetáculo como o girar dos sóis.

Cada dia é para nós o mais longo.
Debruçados tranquilos sobre vossas vidas,

contemplamos serenos as estrelas que giram,

respiramos o inverno do mundo sideral;

somos amigos do dragão celeste:

fria e imutável é nossa eterna essência,

frígido e astral o nosso eterno riso.



Recomendo muito esse livro, antes de ler achei que não ia gostar muito, apenas ia ler por curiosidade, mas após a leitura, me dou por satisfeita em ter tido o privilegio de degustar uma leitura tão prazerosa quanto essa.

1 comentários:

José disse...

somos amigos do dragão celeste:
fria e imutável é nossa eterna essência,
frígido e astral o nosso eterno riso.

ao nosso eterno riso, que por ser eterno não o torna benevolente.